Audiência foi convocada por vereadores da capital e aconteceu nesta terça (19) mesmo com a ausência de Clendes Vilas Boas, que alegou estar doente. Vereadores protocolaram pedido de afastamento temporário do gestor, acusado de assédio moral por funcionários da RBTrans
O superintendente de Transportes e Trânsito de Rio Branco (RBTrans), Clendes Vilas Boas, que está sendo alvo de denúncias de assédio moral contra funcionários do órgão, não compareceu a audiência que aconteceu na manhã desta terça-feira (19), na Câmara de Vereadores.
Ele havia sido chamado para rebater as supostas denúncias, porém informou estar doente. À Rede Amazônica Acre, o superintendente confirmou que está ‘acamado’ e que irá se pronunciar nos autos do procedimento aberto pelo Ministério Público do Acre (MP-AC).
Mesmo com a ausência do superintendente, a audiência aconteceu com a presença dos vereadores da casa e dois agentes de trânsito e transporte que enfatizaram as denúncias contra Clendes. Na ocasião, os parlamentares protocolaram um documento solicitando à prefeitura de Rio Branco o afastamento temporário de Vilas Boas.
Dentre os parlamentares, assinaram o pedido:
- Aiache (PP)
- Moacir Júnior (Solidariedade)
- Leôncio Castro (PSDB)
- Bruno Morais (PP)
- Felipe Tchê (PP)
- João Paulo Silva (Pode)
- Márcio Mustafá (PSDB)
- Samir Bestene (PP)
Contexto: O superintendente da RBTrans, Clendes Vilas Boas, está sendo acusado de assédio moral por duas ex-servidoras. Marília Rodrigues e Daniela Paiva relataram, nas redes sociais, situações constrangedoras que vivenciaram quando trabalhavam na autarquia. Durante a sessão da última terça-feira (12), os vereadores Eber Machado (MDB) e André Kamai (PT) disseram que receberam uma carta anônima com relatos de pelo menos três mulheres.
‘Matando na unha’
Apesar de ter um cargo efetivo e ser concursada, a agente Denise Santos contou, durante a audiência, que o superintendente promove divisões e discórdias no ambiente de trabalho.
“Ele está colocando os servidores uns contra os outros, promete benefícios pra uns e realmente abraça esses que concordam com tudo que ele fala. Protege de todos os jeitos para eles virem aqui mentir, dizer que nós estamos mentindo e coloca esses para coagir a gente, que não concorda com as coisas que ele está fazendo”, afirmou ela.
A servidora da RBTrans reforçou a solicitação para que as investigações sejam feitas de forma completa e abrangente.
“As próprias palavras dele agem contra ele, tem que haver uma investigação. Eu falei com várias pessoas, tem gente que foi afastada, gente pediu afastamento. Uma expressão que é verdade nesse caso: ‘ele fica matando na unha’”, comentou ela.
Suposta perseguição
Jonathan Luis, outro agente de trânsito que também fortaleceu as acusações, pontuou que para ser alvo de perseguição pelo superintendente, é necessário apenas dizer ‘não’ sobre algo que acredite estar fora do que é devido.
“Você dizer não para ele sobre algo que você sabe que não é legal, como eu já fiz, você passa a ser perseguido. Foi assim que recebi meu primeiro Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Foi dado uma ordem e eu disse que não iria porque eu sabia da ilegalidade. A partir disso, ele passou a olhar para mim especificamente com outros olhos e no momento, por exemplo, já estou no quarto PAD”, disse.
Jonathan explicou que Clendes tem diversas posturas para que os trabalhadores sintam que estão sendo punidos por não estarem de acordo com ele.
“Ele muda a nossa escala, manda a gente para lugares que às vezes é desnecessário. Nosso serviço é dinâmico e se acontece um acidente, a gente precisa parar e atender e, eventualmente, ele faz processo administrativo contra a gente por conta dessas coisas. Se fiscalizar em algum lugar que ele não está de acordo ou que ele não quer, é PAD”, revela ele.
Vereadores
O presidente da Câmara Municipal de Rio Branco, Joabe Lira (União), comentou que Clendes havia sido convidado a participar da sessão, porém, na noite desta segunda-feira (18), entrou em contato informando que estava passando mal e que iria ao hospital.
“Todos sabem que ele teve um AVC recente, então ele tem que fazer esse acompanhamento. Estava sentindo dor de cabeça, então vai fazer uma consulta médica, exames para poder resguardar a saúde dele”, esclareceu.
Joabe pontuou que as denúncias estão sendo ouvidas e o Ministério Público também está fazendo a apuração.
“O MP inclusive está fazendo oitivas, então agora acaba que o Mistério Público, fica como responsável legal para fazer toda a investigação. Ao final, será feito o que a lei determina. Nós, como parlamentares, temos que garantir o direito ao contraditório, garantir também o direito pela defesa, a presunção da inocência e, ao final, a justiça vai prevalecer”, afirmou ele.
O vereador André Kamai (PT) foi um dos participantes da reunião e anunciou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para o caso.
“É importante que haja a CPI para que a gente investigue. A Câmara não tem o papel de fazer julgamento. A gente quer investigar e juntar as provas e encaminhar ao MP, encaminhar à Justiça para que se tome as providências cabíveis. Não há pré-julgamento de ninguém, não há pré-condenação de ninguém. Mas, nenhuma denúncia como essa pode ficar sem uma investigação séria”, garantiu.
O vereador Márcio Mustafá (PSDB) também participou da sessão e de acordo com ele, o objetivo do encontro foi ter um diálogo aberto. Na ocasião, defendeu o superintendente e evidenciou que quem irá apurar os fatos será a Justiça.
“O Clendes Vilas Boas é uma pessoa honesta, digna, pai de família. Então eu acho que nós não vamos poder colocar uma corda, uma forca, enquanto não tiver provas. Vamos ter um encaminhamento agora como base”, apontou ele.
Investigações
Em meio às denúncias, o Ministério Público do Acre (MP-AC) disse que acompanha as investigações e apura as denúncias por meio dos depoimentos.
O caso é tratado pelo Centro de Atendimento à Vítima (CAV), que já começou a ouvir as mulheres que relataram publicamente perseguição e constrangimento no ambiente de trabalho.
Diante das acusações e dos relatos das mulheres, o CAV informou que permanece à disposição para receber novas queixas.
Após a conclusão das oitivas, o MP poderá adotar medidas como pedir a abertura de inquérito policial para investigar os fatos.
Superintendente nega
Durante coletiva, na última quarta (13), o superintendente Clendes Vilas Boas disse ser alvo de ataques levianos e fraudulentos e negou todas as acusações.
“Essa é uma maneira de tentar assassinar reputações, criar fatos e boatos para destruir a honra das pessoas, eliminar o caráter com perfil político e arruinar a vida de quem trabalha com ordem e decência. Estão tentando me prejudicar”, declarou.
O superintendente questionou o fato de uma das denunciantes não ter registrado ocorrência na delegacia. Segundo ele, ela trabalhou perto da RBTrans por cerca de 15 dias. Depois disso, atuou em outras secretarias até pedir demissão.
“De certa forma, eu estou forte e vou enfrentar. Não vou abrir mão de trazer a verdade e lavar a minha honra. Nunca tive esse tipo de problema”, finalizou.