Em um discurso contundente, o deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), afirmou que a BR-364 representa mais do que uma estrada, “ela é sinônimo de liberdade, dignidade e sobrevivência para os acreanos. Eu sou filho do isolamento, então sei o quanto uma estrada faz falta quando não está funcionando”. A fala foi feita durante audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), que discutiu sobre os graves problemas estruturais da rodovia e da ponte sobre o rio Caeté, no quilômetro 282, em Sena Madureira. O encontro reuniu parlamentares, técnicos e representantes do setor produtivo.
O deputado defendeu que a reconstrução da rodovia só será possível com a adoção definitiva da tecnologia de macadame, um tipo de pavimento mais resistente às intensas chuvas amazônicas, mas reconheceu que não há como aplicá-lo de forma imediata em toda a extensão da estrada. “Não dá pra fazer macadame na estrada toda, no mesmo tempo, num único verão. Então vamos precisar de algo que muitos não querem ouvir: tapar buracos no verão para que o povo não fique isolado no inverno. É o dinheiro de enxugar gelo, sim, mas é o que temos até reconstruirmos tudo com qualidade”, pontuou.
Ao longo de sua fala, Edvaldo Magalhães fez questão de resgatar a memória política da estrada, cobrando um olhar mais honesto sobre os avanços e retrocessos ao longo dos anos. Destacou o papel de ex-governadores como Jorge Viana, Binho Marques e Orleir Cameli como protagonistas de momentos decisivos para a BR, e lembrou que o projeto da Transacreana, no divisor de águas, poderia ter evitado parte dos problemas atuais de drenagem e travessias de rios.
O oposicionista também fez duras críticas ao período de abandono da rodovia durante o governo Bolsonaro, que segundo ele, foi “a maior apunhalada nas costas” da BR-364 e da BR-317. “Não teve dinheiro pra manutenção. No verão, com contratos firmados, não havia recursos. E depois vieram três invernos sem reparo. Isso destrói qualquer solo”, afirmou, cobrando coerência de empresários e lideranças que hoje buscam apoio do atual governo, mas silenciaram diante do descaso anterior.
Ele destacou que a tecnologia do macadame aplicada atualmente é fruto de 23 anos de testes conduzidos por engenheiros do Dnit e do Deracre, e propôs uma homenagem a esses profissionais, que tornaram possível uma alternativa viável para a reconstrução da BR.
Ao encerrar sua fala, Magalhães foi categórico: “A BR só avançou quando foi tratada como uma estrada da cidadania. Foi quando o presidente Lula disse que o povo do Acre merecia pontes que prestassem, e determinou a construção das mesmas. Se fosse por retorno econômico, essas pontes nunca teriam existido”, enfatizou.
Ele também convocou os colegas parlamentares para o que chamou de “mutirão político”: uma mobilização conjunta, entre todos os entes federativos, para garantir recursos suficientes para a manutenção emergencial e reconstrução definitiva da BR-364. “Ou botamos mais dinheiro agora, ou estaremos por muitos anos ainda enxugando gelo e enterrando vidas, sonhos e oportunidades no meio da lama”, finalizou.